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LIÇÃO 3 – DAVI NA CORTE REAL – VIVENDO COM SABEDORIA

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A passagem de Davi na corte de Saul revela-nos o comportamento de um ungido de Deus num mundo hostil.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo de Davi, veremos hoje a sua conduta enquanto esteve na corte do rei Saul, como seu comandante e, depois, já como genro do rei.

– Embora tenha se portado exemplarmente enquanto na corte de Saul, Davi foi crescentemente hostilizado pelo rei até o ponto de ter de fugir dali para não ser morto. Assim são também os filhos de Deus neste mundo. A hostilidade do mundo contra os ungidos do Senhor é tanta e crescente que chegará o instante em que o Senhor terá de nos levar daqui. 

I – O INGRESSO E O ÊXITO DE DAVI NA CORTE DE SAUL

– A vitória sobre Golias foi um divisor de águas na vida de Davi. Embora o rei Saul não tivesse cumprido a promessa de lhe dar a sua filha em casamento(I Sm.17:25; 18:19), fez de Davi um dos comandantes do exército de Israel (I Sm.18:5) e nasce, então, o guerreiro, o maior de todos os conquistadores da história de Israel. A vinculação de Davi com a guerra foi tanta que o próprio Deus não permitiu que Davi construísse o templo, precisamente para impedir que a ideia do sangue e da guerra fossem associadas ao nome do Senhor, que é o Deus da paz (I Cr.22:8).

– Abner, o comandante do exército de Saul, trouxe Davi, após a vitória sobre o gigante, à presença do rei, tendo o jovem Davi trazido a cabeça do filisteu (I Sm.17:57). Saul perguntou ao jovem de quem era ele filho, tendo Davi dito que era filho de Jessé, o belemita (I Sm.17:58).

Esta expressão bíblica, como dissemos na lição anterior, mostra que, apesar de Davi frequentar já a corte de Saul, periodicamente, a fim de expulsar o espírito maligno da presença de Saul e ser seu pajem de armas, não o fazia relevante na corte real, sendo mais um dos muitos serviçais que eram convocados pelo rei, dentro das leis vigentes quanto ao reino, estatuídas quando do estabelecimento da monarquia (I Sm.8:11-21), que ainda era incipiente e não possuía nenhuma infraestrutura burocrática, até porque nem capital Israel tinha naquela época.

– Com a vitória sobre o gigante, porém, a situação mudava de figura. Davi se destacara e se tornara um verdadeiro ―campeão‖ dos israelitas, de tal maneira que o rei Saul não mais deixou que retornasse para a casa de seu pai, requisitando seus serviços em caráter permanente (I Sm.18:2).

– Assim que Davi foi levado ao rei Saul e determinado que se mantivesse servindo na corte, a Bíblia dá-nos conhecimento de que surgiu uma amizade à primeira vista entre Davi e Jônatas, filho de Saul, outro valoroso guerreiro de Israel e que, em teoria, era o herdeiro do trono.

– Jônatas, cujo nome significa ―Deus nos deu‖ ou ―dado por Deus‖, era o filho primogênito de Saul (I Cr.9:39) e, como tal, naturalmente era o herdeiro da coroa de Israel.

Como se não bastasse isso, tratava-se de um valoroso guerreiro, que tinha sido o principal responsável pela vitória de Israel sobre os filisteus na primeira guerra que havia ocorrido entre estes povos sob o reinado de Saul, vitória este que fez com que Jônatas se tornasse extremamente popular entre os soldados, a ponto de ter o exército se voltado contra o próprio Saul quando este, por um voto atrevido, condenou seu próprio filho à morte (I Sm.14).

– Assim como ocorrera com o mancebo que havia anunciado a Saul a respeito de Davi quando o rei estava a procurar alguém que o pudesse livrar do mau espírito que o afligia, Jônatas, também, que a Bíblia indica ter sido um homem fiel e temente a Deus, viu em Davi, logo no primeiro instante, um jovem que era valente, animoso, homem de guerra, sisudo de palavras, de gentil presença e com quem estava o Senhor (I Sm.16:18).

– Vemos, mais uma vez, agora através das impressões de Jônatas, que a visão espiritual é reservada única e exclusivamente para aqueles que temem a Deus, para os Seus servos. Assim como o jovem mancebo, Jônatas pôde ver em Davi muito mais que um ―campeão, mas alguém com quem Deus era, alguém escolhido pelo Senhor. Seus olhos eram espirituais, sua mente era espiritual.

– Da mesma maneira, nós, que servimos a Deus e que temos o Espírito Santo, temos de ter a mente de Cristo (I Co.2:16), tudo discernindo espiritualmente (I Co.2:13-15). Nos dias difíceis em que vivemos, onde até mesmo os escolhidos correm risco de ser enganados (Mt.24:24), torna-se indispensável que tenhamos sempre a iluminação provinda da luz do evangelho de Cristo (II Co.4:4). A falta de comunhão com Deus, a prática do pecado e a carnalidade têm cegado a muitos, entretanto, que não conseguem ter a visão que Jônatas teve em relação a Davi.

– O resultado desta visão espiritual que Jônatas teve em relação a Davi fez surgir entre eles um profundo amor (I Sm.18:1). Este amor entre Davi e Jônatas é uma das mais eloquentes demonstrações bíblicas da sublimidade do amor de Deus sobre todo e qualquer outro sentimento humano a que denominamos de ―amor.

 Jônatas tinha todos os motivos para odiar Davi e querer seu mal: o surgimento daquele jovem, que se tornara o campeão da segunda guerra entre filisteus e israelitas, que seria extremamente popular não só entre os soldados, mas também entre as mulheres, que viria a se tornar o genro do rei, punha na corte um concorrente direto para o trono de Israel. Se tinha alguém que deveria se levantar contra Davi na corte seria Jônatas, diretamente ameaçado de se tornar, como tudo indicava, de ser o segundo rei de Israel.

– No entanto, ao longo da história, veremos em Jônatas alguém que sempre esteve disposto a defender Davi, inclusive sabendo que Deus o havia escolhido para suceder seu pai no trono. Por incrível que possa parecer, será Saul quem perseguirá Davi e não, Jônatas, que, inclusive, se voltará contra Saul na sua defesa de Davi, algo que o rei jamais compreenderá (cf. I Sm.20:30,31).

– Jônatas tinha um amor completamente desinteressado com Davi, e foi correspondido neste sentimento, pois Davi, já no trono, beneficiará Mefibosete, precisamente por ser este filho de Jônatas (I Sm.9:1).

É este um verdadeiro tipo do amor de Deus que todos os filhos de Deus devem ter, visto que foi ele derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5), o amor que levou Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo até a cruz do Calvário, para morrer em nosso lugar, quando nós ainda éramos pecadores (Rm.5:8), o amor que é tão esplendidamente descrito por Paulo em I Co.13.

– Este sentimento que fez o Senhor nascer entre Jônatas e Davi era mais uma providência divina para que se pudesse prosseguir o plano divino não só para Davi mas para a humanidade, uma vez que a escolha de Davi para reinar sobre Israel não estava apenas relacionada com a aliança estabelecida no Sinai entre Deus e Israel, mas com a própria salvação na pessoa de Jesus Cristo, que quis o Senhor fosse descendente de Davi, que tinha de dar início a uma dinastia para que o Cristo fosse, também, Rei de Israel e não somente Rei de Israel mas Rei dos reis e Senhor dos senhores.

– Por isso, constitui-se em uma inominável blasfêmia o que o adversário de nossas almas tem suscitado, inclusive no meio de alguns sedizentes “evangélicos”, qual seja, a de identificar no amor entre Davi e Jônatas um exemplo bíblico de homossexualidade masculina.

Para espanto nosso, não são poucos os que, na atualidade, procuram ensinar que a homossexualidade não é abominável aos olhos do Senhor, buscando em Davi e Jônatas o exemplo de um amor homossexual que teria sido agradável aos olhos de Deus.

– Esta blasfêmia, defendida por estes homens perversos e malignos, muitos travestidos de pregadores e ensinadores da Palavra de Deus (o que não é de se admirar, já que o próprio Satanás se traveste de anjo de luz – II Co.11:13-15), não tem qualquer consistência. Senão vejamos.

Por primeiro, tanto Jônatas quanto Davi são apresentados, na Bíblia Sagrada, como pessoas heterossexuais. Jônatas foi casado e teve um filho, Mefibosete (II Sm.4:4; I Cr.8:34), enquanto que Davi teve muitas mulheres e concubinas (II Sm.3:2-5; 5:13). Diante disto, não podemos considerar Davi e Jônatas como homossexuais masculinos.

Quando muito, teriam sido ―bissexuais‖, ou seja, pessoas que, ao longo de sua vida, teriam tido relações sexuais tanto com homens como mulheres.

– Esta circunstância, aliás, destrói outro argumento destes blasfemos, qual seja, o de que a constatação de que Davi e Jônatas eram homossexuais masculinos adviria do que está em II Sm.1:26, quando Davi chora a morte de Jônatas e diz que o amor que tinha para com o filho de Saul era maior que ―o amor das mulheres.

Ora, nesta expressão de Davi se encontra a prova cabal de que o amor existente entre Jônatas e Davi não era um amor carnal, um amor sexual, mas, sim, um amor de outra natureza, um amor muito mais sublime e que independia do contato físico, tanto que superou até mesmo a morte de Jônatas no gesto de Davi para beneficiar Mefibosete.

Um amor bem diferente do que Amnom, filho de Davi, mostrou por sua meia-irmã Tamar, este, sim, um amor carnal, e, por ser carnal, passageiro e que não resistiu ao primeiro relacionamento íntimo (II Sm.13:1-22).

– Dirá alguém, diante destas evidências bíblicas, que Jônatas pode ter se voltado para as mulheres depois de sua separação de Davi, tanto que Mefibosete tinha apenas cinco anos quando Jônatas morreu (como se soubéssemos o tempo entre a unção de Davi e a morte de Saul…) o mesmo ocorrendo com Davi.

Se admitirmos este argumento, por primeiro, estaremos negando a tese do movimento homossexual de que a homossexualidade é uma ―orientação sexual, uma imposição da natureza.

Se Davi e Jônatas eram homossexuais, jamais poderiam ter se sentido atraídos por mulheres depois de sua separação, a menos que admitamos que a homossexualidade (como de fato o é) é um ato de vontade, um ato deliberado de rebeldia contra Deus.

Neste sentido, Davi e Jônatas teriam se convertido e deixado o pecado anteriormente cometido, o que, naturalmente, jamais seria aceito pelos defensores do chamado ―movimento gay.

– Por segundo, Davi se casou com Mical, filha de Saul, sua primeira mulher, antes da sua separação de Jônatas, quando ainda vivia na corte real. Só este fato desmorona também esta tese dos blasfemos. Nem se diga, ainda, que Davi se casou com Mical apenas por interesse e sem qualquer atração sexual, como um arranjo político, até porque há notícia de uma afeição entre ambos (I Sm.18:20).

Além de irmos além do que está escrito para admitirmos tais circunstâncias, estaríamos desconsiderando que Davi se interessou em casar-se com uma mulher já quando lhe chegaram aos ouvidos a proposta de Saul para quem resolvesse lutar contra o gigante e que, já na corte real, esperava o cumprimento desta promessa, prova de que, jovem como era, tinha interesse sim em casar-se para satisfazer seu nítido instinto heterossexual (cf. I Sm.17:26,30; 18:17,20).

– Como se não bastasse, temos que o amor homossexual, como é carnal, depende tanto de contato físico, para que haja sua satisfação, quanto que seja possessivo, como, aliás, vemos, claramente, nas cada vez mais abundantes ocorrências de pedofilia e de abusos sexuais diariamente veiculadas pela mídia.

Ora, o amor entre Davi e Jônatas era completamente desinteressado, a ponto de Jônatas, mesmo sabendo claramente que Davi sucederia seu pai como rei de Israel (lugar que seria, por direito, de Jônatas, o primogênito de Saul), tudo fez para defendê-lo e impedir que Saul lhe tirasse a vida, como também se desenvolveu e se mostrou mesmo após a separação física entre ambos e, até mesmo, depois da morte de Jônatas.

– O texto sagrado é bem claro ao mostrar que o amor existente entre Davi e Jônatas era de ordem espiritual, pois Jônatas ama a Davi como a sua própria alma (I Sm.18:1,3), ou seja, não se trata de qualquer atração física ou de qualquer inclinação carnal, mas de um amor surgido da sua visão espiritual, que viu em Davi um homem segundo o coração de Deus, um escolhido de Deus.

– Por fim, não podemos deixar de observar que a Bíblia diz que Davi tinha o Espírito Santo e que Deus era com ele. Ora, jamais o Senhor estaria com alguém que cometesse o pecado do homossexualismo, condenado explicitamente por Deus na lei de Moisés (Lv.18:22).

Jamais Israel admitiria uma conduta desta natureza da parte do príncipe herdeiro de Israel e jamais teria poupado a vida dele junto ao rei que já o condenara à morte se apresentasse uma conduta tão abominável.

– Não há como, pois, sequer mencionar-se tamanha distorção das Escrituras, que só se explica pelo fato de que a Bíblia tem de se cumprir e estar predito na Palavra de Deus não só que, nos últimos dias, surgiriam doutrinas de demônios (I Tm.4:1), como também que a homossexualidade, máxima rebeldia contra o Senhor, seria uma das mais funestas características dos últimos dias (Rm.1:27,28; II Ts.2:3,4).

– Jônatas, diante desta visão espiritual que teve, fez uma aliança com Davi, o que será explicitado mais à frente na narrativa, como também se despojou de sua capa que trazia sobre si e a deu a Davi, como também seus vestidos, sua espada, seu arco e seu cinto (I Sm.18:3).

– Neste gesto, Jônatas demonstrou, claramente, que viu em Davi o ungido de Deus Como era o herdeiro do trono, ao perceber que Deus era com Davi, de imediato, discerniu que Davi havia sido escolhido pelo Senhor para suceder Saul. Como Jônatas poderia perceber isto?

Por dois motivos:

por primeiro, porque, como herdeiro do trono, certamente tinha conhecimento daquilo que Samuel havia dito a Saul, ou seja, que o rei havia sido rejeitado e que o Senhor já havia escolhido alguém para sucedê-lo (I Sm.13:14; 15:28);

por segundo, por ser um homem temente a Deus, certamente sentiu da parte do Senhor que ali estava quem havia sido ―o escolhido‖ de Deus mencionado por Samuel.

– Dirá alguém que Jônatas não tinha o Espírito Santo, pois, naqueles dias, o Espírito era dado sob medida e, desta maneira, não tinha ele como ter o discernimento espiritual por não ser habitação do Espírito, como têm os salvos na atual dispensação.

No entanto, não podemos deixar de observar que, embora estivéssemos no tempo da lei, havia homens e mulheres fiéis ao Senhor e o Senhor jamais os deixaria à mercê de Seus planos e propósitos. Deus falava por meio dos profetas e aqueles que criam n’Ele certamente criam no que diziam os profetas.

Jônatas teve conhecimento do que Samuel disse a Saul e, portanto, ao ver Davi vitorioso como o foi, em nome do Senhor, assim como aquele mancebo, percebeu nitidamente que Deus era com Davi.

– Esta percepção de Jônatas e do mancebo mostra-nos, claramente, que, em todos os tempos, Deus sempre tem um remanescente que Lhe é fiel. Sempre há aqueles que não dobram seus joelhos a Baal e que, a despeito de posição, classe social, riqueza, erudição, estão atentos ao Senhor e à Sua Palavra.

Tanto o mancebo anônimo que deu notícia da existência de Davi a Saul como o príncipe herdeiro Jônatas tiveram condições de ver em Davi a ação divina em prol de Seu povo. Que sejamos como eles e, numa época em que este discernimento é muito mais amplo que no tempo da lei, possamos desfrutar da imensa bênção de possuirmos a mente de Cristo e sermos homens espirituais (I Co.2:13-16).

– É triste ver, entretanto, que muitos, nos dias em que vivemos, estão como Saul e Abner, incapazes de saber quem era Davi e que se contentaram em saber quem Davi era tão somente do ponto-de-vista biológico e social, como o filho de Jessé. Quantas vezes, somos levados a desconsiderar e a desconhecer vasos abençoados que o Senhor tem levantado no meio do Seu povo, por vermos neles só um jovem pastor e pajem de armas, não um ungido do Senhor.

– O gesto de Jônatas mostra que o amor de Deus é sempre acompanhado tanto de desapego às coisas materiais quanto de atitudes e não apenas de palavras. Jônatas não foi elogiar Davi, como seria natural. Como príncipe herdeiro, se assim procedesse, já seria uma grande honra àquele jovem pastor.

– Entretanto, Jônatas não se contentou em apenas falar, mas, como era possuído do verdadeiro amor, do amor provindo da parte do Senhor, não ficou apenas em palavras, mas amou por obra e em verdade e, na frente de todo o povo (ou, pelo menos, de forma a que todo povo tomasse conhecimento, pois não o fez secretamente), despojou-se de tudo aquilo que o distinguia diante de todo o povo.

Abriu mão de sua capa, de seus vestidos, até de sua espada (arma com a qual tivera retumbante vitória sobre os filisteus e que somente ele e Saul possuíam em Israel — I Sm.13:22; 14:13,14), de seu arco e de seu cinto, dando-os a Davi.

– Assim como Jônatas, um dia fomos ao encontro de Jesus e entendemos, pelos olhos da fé, que Ele é o Cristo, o Ungido de Deus. Será que fizemos como Jônatas?

Será que nós O amamos como a nossa própria alma? Se o fizemos, certamente não tivemos dificuldade em tudo entregar ao Senhor: a capa, os vestidos, a espada, o arco e o cinto.

Será que podemos cantar, do fundo da nossa alma e com sinceridade, o hino 295 do Cantor Cristão (hinário batista) ―Tudo entregarei, de autoria de Judson W. Van de Venter (1855-1939), traduzido por George Benjamim Nind (1860-1932) cuja primeira estrofe e refrão dizem:

 ―Tudo, ó Cristo, a Ti entrego, Tudo sim, por Ti darei! Resoluto, mas submisso, Sempre a Ti eu seguirei! Tudo entregarei! Tudo entregarei! Sim, por Ti, Jesus bendito, Tudo deixarei!.

– Embora tivesse Davi tido uma grande vitória que trouxera o reconhecimento pessoal tanto do rei Saul quanto do príncipe herdeiro Jônatas, em nada o jovem pastor modificou seu comportamento.

Diz-nos o texto sagrado que, incorporado ao exército do rei em caráter permanente, Davi saía aonde quer que Saul o enviava e se conduzia com prudência, tendo o rei posto o ex-pastor de ovelhas sobre a gente de guerra, sendo Davi aceito por todo o povo e até aos olhos dos servos de Saul (I Sm.18:5).

– Que grande exemplo nos dá Davi, que, neste ponto, uma vez mais, tipifica o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Servo do Senhor por excelência (Is.42:1). Apesar de todas as honrarias e do prestígio recebidos, Davi, em momento algum, deixou de ser submisso ao rei Saul.

Saía aonde quer que Saul o enviava. O ungido de Deus deve ser um exemplo de obediência a todos quantos estão à sua volta. Afinal de contas, como podemos obedecer a Deus, a quem não vemos, se não obedecemos aos homens a quem vemos? – Dirá alguém, repetindo os ensinos do ―anarquismo cristão, notadamente o do escritor russo Leo Tolstói (1828-1910), que o salvo não pode servir aos homens, com base em I Co.7:23.

Todavia, este ensino não é correto, porquanto desconsidera o contexto em que o apóstolo Paulo disse esta palavra. O ensino bíblico é que devemos, sim, reconhecer as relações sociais existentes, servindo àqueles que estão em eminência, as autoridades constituídas, visto que toda autoridade é constituída por Deus (Rm.13:1,2).

– Pouco importa se aqueles a quem devemos obediência (governantes, pais, patrões, agentes públicos, chefes e encarregados nos locais de trabalho ou repartições, professores, diretores de estabelecimentos etc.) são, ou não, servos do Senhor.

Como pessoas que buscam assemelhar-se a Cristo Jesus, que estão no caminho de chegar à Sua estatura (Ef.4:13), temos o dever de imitar Jesus (I Co.11:1), que, durante Seu ministério terreno, sempre foi sujeito a quem devia obediência (Lc.2:51; Mt.17:24-27; 22:21; Jo.19:11). O limite da obediência é a Palavra de Deus (At.5:29; Ef.6:1), sendo, pois, este o sentido de I Co.7:23.

– Davi sempre foi obediente a Saul, jamais desconsiderando a condição de ungido que o rei ostentava, ainda que, mais do que nenhuma outra pessoa, tivesse a ciência de que era o sucessor de Saul, que havia sido ungido em lugar de Saul, diante da rejeição divina ao primeiro rei israelita.

No entanto, como dava valor à própria unção, também levava em conta a unção de Saul, jamais deixando a sua condição de servo de Saul, condição, aliás, em que Deus o havia posto.

– Como é belo vermos servos de Deus que têm o mesmo comportamento, obedecendo àqueles que foram postos à frente do rebanho.

A Bíblia manda-nos obedecer aos pastores (Hb.13:17). Logicamente que esta obediência é condicionada à obediência a Deus, mas jamais uma rebelião, que é pecado de feitiçaria (I Sm.15:23), será uma forma de obedecer ao Senhor. Nossa obediência aos pastores é indispensável para que tenhamos um bom testemunho da parte de Deus. Davi dá-nos o exemplo. Embora Saul tivesse sido rejeitado por Deus, ainda era o rei e, como tal, Davi devia obedecer-lhe.

– Mas, além de obedecer a Saul, Davi, também, conduzia-se com prudência. Como já tivemos ocasião de observar na lição anterior, Davi, como uma pessoa cheia do Espírito Santo, era prudente, tinha a sabedoria divina, algo que nos vem do alto (Tg.3:17), algo que é resultado de um pedido que fazemos a Deus (Tg.1:5), qualidade que advém ao homem como consequência de seu temor ao Senhor (Sl.111:10a; Pv.9:10a).

– Davi era prudente quando cuidava das ovelhas de seu pai, como também quando passou a cuidar das armas de Saul. Ao enfrentar o gigante, como vimos, também demonstrou prudência. Agora que se encontrava ―por cima‖, gozando da estima do rei e do príncipe herdeiro, também se conduzia com prudência.

A prudência é uma qualidade que advém do nosso conhecimento de Deus (Pv.9:10b), independe das circunstâncias em que nos encontramos: se na tempestade ou na bonança. Davi não se deixou empolgar, embora fosse jovem e estivesse desfrutando de um período de fama e de sucesso.

Que bom seria que os crentes, notadamente os mais jovens, que são mais afoitos e empolgados por natureza, também corressem aos pés de Jesus, nestes instantes de suas vidas, para que se mantenham prudentes e sábios, a fim de não serem enganados pelo inimigo de nossas almas.

– Neste passo, aliás, encontramos um comportamento que não tem respaldo bíblico em nosso meio. Por causa da mocidade e juventude de alguns homens e mulheres que Deus tem levantado, muitos mais velhos logo tratam de enquadrar os jovens, de negar-lhes oportunidade, dizendo que estão a ―prová-los‖, a contribuir para que não venham a se ensoberbecer e, com isto, perderem a salvação, estribando-se em I Tm.3:6.

– No entanto, quando vemos a Palavra de Deus, não encontramos base para esta ―provação‖, para este freio no ministério dos mancebos, que muito mais parece resultado de inveja do que preocupação com o futuro ministerial destes jovens.

É verdade que o apóstolo Paulo deu, como requisito para a separação ao ministério, que o candidato não seja neófito. No entanto, ―neófito‖ não significa ―jovem‖, mas, sim, ―recém-convertido‖, ―plantado há pouco‖, ―pessoa que vai receber o batismo ou foi recentemente batizada‖.

– Está-se falando, pois, não de idade, mas, sim, de maturidade espiritual, de experiência com Deus, o que nem sempre está ausente na vida do jovem. Aliás, Timóteo é um exemplo bíblico de um obreiro consagrado ainda jovem, a ponto de Paulo ter aludido a este fato, que era, pelo que se verifica, objeto de preconceito por parte dos crentes (I Tm.4:12).

– Saul, percebendo o valor de Davi, apesar de sua pouca idade (cf. I Sm.17:33), ao ver que o jovem tinha habilidade e a bênção de Deus, não teve qualquer dúvida em pô-lo diante da gente de guerra (I Sm.18:5).

Como seria bom que muitos dirigentes, nos dias de hoje, tivessem esta mesma atitude, pondo jovens talentosos e que já revelaram ser chamados por Deus à frente de departamentos e atividades na igreja, trazendo o necessário dinamismo e vigor de que a igreja deste tempo do fim tanto carece.

– A prudência de Davi, por ser vinda do alto, fez com que aquele jovem, comandando a gente de guerra, tivesse um comportamento exemplar.

A sabedoria que do alto vem, diz-nos Tiago, é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia (Tg.3:17). Por se conduzir desta maneira, Davi foi aceito aos olhos de todos, inclusive dos servos de Saul, ou seja, dos demais líderes militares e pessoas de responsabilidade na corte real.

– O verdadeiro salvo na pessoa de Jesus Cristo tem uma conduta como a de Davi. Impelido pela sabedoria que vem do alto, é pessoa que produz o fruto do Espírito, praticando boas obras, contra as quais não há lei (Gl.5:23). Será sempre uma pessoa que, com a pureza, é pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia. Uma pessoa assim faz bem a todos quantos o cercam, põe no ar o ―bom cheiro de Cristo‖ (II Co.2:14,15).

– Mas, se o crente produz estes frutos, por que, então, somos hostilizados pelo mundo? Precisamente porque o bom cheiro de Cristo produz, para os que se salvam, cheiro de vida, mas, para os que se perdem, cheiro de morte.

Apesar de serem pessoas boas, cujo caráter é reconhecido por todos, não serão todos que irão se regozijar com tal conduta, o que levará o homem ou mulher de Deus a ser hostilizado por aqueles que rejeitam a Cristo. Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro diz que devemos ser criticados e perseguidos pelo que fazemos de bom (I Pe.2:12).

– Foi, precisamente, o que sucedeu a Davi. Apesar de aceito aos olhos de todo o povo, inclusive dos servos de Saul, o jovem comandante acabaria por despertar inveja e hostilidade por parte do próprio rei Saul.

– Davi chefiava um grupo de assalto, ou seja, uma tropa que efetuava ataques repentinos aos inimigos e que trouxe a Davi uma grande popularidade entre o povo. Mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando, e em danças, com adufes, com alegria, com instrumentos de música (I Sm.18:5,6).

Tais mulheres, em canto responsivo, passaram a dizer que Saul feriu os seus milhares, mas Davi, dez milhares (I Sm.18:7,8). Isto despertou a inveja do rei Saul, que se desgostou ao ouvir as mulheres dizerem que Saul matava milhares, mas Davi, dezenas de milhares (I Sm.18:7,8).

Tendo enfrentado, de início, a inveja de seu irmão primogênito, do qual facilmente pôde se desviar, Davi, agora, passava a enfrentar a inveja daquele a quem servindo estava, o próprio rei Saul.

– Interessante observarmos que Davi não tinha culpa alguma do que ocorrera. Conduzia-se com prudência e era obediente a Saul, mas o povo, numa ocasião festiva, acabou por colocá-lo em má situação diante do rei. Esta será a primeira de algumas vezes em que folguedos levados a efeito pelos israelitas e dos quais Davi participou lhe traria problemas em sua vida.

– Na vida da igreja hodierna, não tem sido diferente. O que mais encontramos nas igrejas locais, na atualidade, são folguedos, festividades despropositadas, ou seja, sem propósito de louvor a Deus, de salvação de almas, onde há um nítido desvio de foco, centrando-se na confraternização e no entretenimento.

As mulheres saíram ao encontro do rei Saul para celebrar as vitórias, mas, em vez de agradecerem a Deus por elas, aproveitarem a ocasião para renovarem um pacto com o Senhor, como se fez na vitória sobre os filisteus nos dias de Samuel (I Sm.7:12), quiseram fazer festanças, com danças e instrumentos de música.

– Este tipo de reunião não faz bem aos servos de Deus. Por causa da inconsequência das mulheres, que dançavam, tocavam e faziam cantos responsivos (ou seja, um grupo cantava e outro respondia, algo similar aos repentistas do Nordeste brasileiro), acabou saindo o cântico desrespeitoso ao rei e que lhe inspirou a indignação e a inveja contra Davi.

– Dirão alguns que as mulheres não tinham culpa desta reação de Saul, que não podiam ser censuradas por isto. Estavam apenas dizendo o que sentiam. Dizem e tem razão em dizê-lo.

A indignação e inveja de Saul eram resultado de uma vida espiritual fracassada, de uma rebeldia contra o Senhor, que faziam de Saul um homem voltado para as coisas materiais e, pior do que isto, obcecado com a ideia de que perderia o reino a alguém que seria levantado por Deus, como havia dito o profeta Samuel.

No entanto, é inegável que as atitudes das mulheres eram inconvenientes e completamente dispensáveis. Criou-se um clima de irreverência em que se começou a dizer o que não se tinha coragem, em que se começou a desconsiderar o monarca, um tipo de celebração que não correspondia à santidade que o povo de Deus deveria ter. As mulheres deram ocasião a que surgissem maus intentos e é neste ponto que reside o mal que causaram.

– Não é diferente nos dias de hoje. Os folguedos têm contribuído enormemente para que a irreverência e a carnalidade penetrem em nossas reuniões e em nosso povo. Isto dá ocasião para que os sentimentos ocultos, as más intenções e os maus desígnios aflorem no meio dos crentes, em grande prejuízo à vida espiritual de todos.

Danças e músicas sensuais, que despertam a emoção, que levam ao balanço do corpo e à satisfação dos sentidos físicos são atividades que só trazem prejuízo espiritual, que em nada contribuem para a adoração e para o louvor, que levam à carnalidade e ao mundanismo. Não deixemos que estes folguedos favoreçam a ação do inimigo e tragam problemas aos fiéis.

II – DAVI SOB PERSEGUIÇÃO NA CORTE DE SAUL

– Davi passou, então, a ser duramente perseguido pelo rei Saul, que buscou, mais de uma vez, tirar-lhe a vida. A perseguição implacável fez com que Davi tivesse de fugir e, assim, perder a sua função no reino, num instante em que, inclusive, já era genro do rei Saul, pois havia sido casado com Mical (I Sm.l8:27).

Saul passou a temer a Davi e a perceber que a unção de Deus estava sobre ele, constituindo-se, portanto, em nítida ameaça a seu reinado.

– Como resultado daquela malfadada festa das mulheres, Davi passou a ser tido por Saul em suspeita (I Sm.18:9). Saul começou a desconfiar que Davi era o homem que Deus havia escolhido para sucedê-lo, conforme a palavra que lhe fora pronunciada pelo profeta Samuel (I Sm.13:14; 15:28).

– Esta suspeita, que nada mais era que inveja (tanto que a NVI traduz a palavra hebraica por ―inveja‖), era resultado do caráter maligno de Saul.

A inveja é propriedade dos maus (I Jo.3:12), daqueles que se recusam a servir a Deus, a começar de Caim. Por isso, Asafe disse que, quando começou a sentir inveja dos homens ímpios, estava a ponto de se desviar dos caminhos do Senhor (Sl.73:2,3).

Ter inveja é se pôr nas mãos do inimigo, é começar a andar no caminho de Caim (Jd.11). Que Deus nos guarde da inveja!

– Não demorou muito para que Saul, assim como Caim, tentasse, pela inveja, matar Davi. Num dia em que se encontrava atormentado pelo espírito maligno que o afligia, no mesmo instante em que Davi, como sempre, tangia sua harpa, a fim de afugentar o demônio, tendo Saul uma lança na sua mão, Saul atirou a lança que tinha em sua mão contra Davi, tentando-o encravar na parede por duas vezes, não tendo sido exitoso, porque Davi dele se desviou (I Sm.18:10,11).

– Este episódio é bem elucidativo. Por primeiro, vemos que Saul continuava sendo atormentado pelo espírito maligno e que, naquela ocasião, inclusive profetizava no meio da casa. Devemos ter o discernimento espiritual para podermos distinguir os espíritos que são de Deus e os que não são (I Jo.4:1).

Quantos, na atualidade, ao verem alguém passear pelo meio da casa de Deus, já vão glorificando e aceitando tudo quanto se faz, sem saber que se trata de um espírito maligno que está ali para tumultuar e impedir que as pessoas sejam abençoadas.

– A presença do espírito maligno deu ao rei a ―coragem‖ para que matasse Davi. Aquilo que era acalentado há dias, quiçá meses, em seu coração, por causa da inveja, foi estimulado, incentivado pelo espírito maligno. A possessão demoníaca, muitas vezes, tão somente intensifica algo que já está no coração do homem.

A situação espiritual de Saul era lamentável, pois ele havia sido rejeitado por Deus, havia perdido o Espírito Santo, mas não foi o demônio que instalou no coração de Saul o desejo de matar Davi. O espírito maligno apenas o estimulou, apenas o aguçou.

Não podemos pôr a culpa no diabo ou nos espíritos malignos pelo mal cometido por A, B ou C, ou por nós mesmos, pois tudo o que é mau não tem origem nos demônios ou no diabo, mas, sim, em nossos próprios corações (Mt.15:19; Mc.7:23).

– Há uma tendência, atualmente, de se considerar o diabo culpado por tudo e por todos. Não estamos aqui para ser ―advogados do diabo‖, mas esta ―demonização‖ deve ser evitada pelos que servem a Deus.

Caso o diabo e seus anjos fossem culpados por tudo o que acontece, a humanidade jamais poderia ser responsabilizada pelos pecados e Deus teria de absolver a todos. Aliás, é precisamente este o raciocínio enganoso decorrente desta ―demonização, que é mais uma artimanha do inimigo no engano de muitos.

No entanto, o homem peca porque não quer servir a Deus e, portanto, tem de se queixar não do diabo nem dos demônios, mas de seus próprios pecados (Lm.3:39).

– Saul tinha uma lança na mão, enquanto Davi tangia sua harpa. Que diferença de ferramentas! Enquanto Saul, em sua casa, sem qualquer necessidade de estar armado, mantinha uma lança na mão, Davi, chamado que fora pelo fato de Saul estar perturbado, trazia sua harpa, que tangia, a fim de que o espírito maligno fosse afugentado.

Saul tinha, em sua mão, um instrumento de morte; Davi, um instrumento de música, de louvor. As ações de Saul eram voltadas para a morte; as de Davi, para glorificar a Deus.

– As mãos simbolizam as obras nas Escrituras. Como têm sido as nossas obras? Temos produzido a morte, praticando as obras da carne, ou seja, tendo lanças em nossas mãos, ou, ao contrário, temos produzido boas obras,o fruto do Espírito, de modo a que não só glorifiquemos como levemos todos a glorificar ao Senhor (Mt.5:16).

– Saul conseguiu atirar a lança contra Davi, enquanto Davi continuava a tocar para que o espírito maligno se afugentasse. Esta experiência para Davi deve ter sido extremamente traumática.

Certamente, o jovem deve ter perguntado porque, ao tocar a harpa, o espírito não se afugentou de Saul e, mais do que isto, ainda Saul pôde, por duas vezes, tentar matá-lo. Teria Deus o abandonado?

– Quantas vezes, o Senhor também permite que, nos embates com o maligno, o inimigo pareça ter alguma vantagem, enquanto nós, cheios do Espírito Santo, sem ter feito qualquer coisa que desagrade a Deus, pareça que estejamos derrotados. O propósito de Deus é sempre para o nosso bem (Jr.29:11; Rm.8:28).

Portanto, mesmo quando parece que o mal está a vencer, não creiamos nesta possibilidade, mas, sim, que tudo ocorre para nosso fortalecimento diante do Senhor.

– Davi quase foi encravado na parede por duas oportunidades, mas Deus permitiu que Saul intentasse duas vezes contra a vida de Saul para que ocorressem algumas coisas importantes, a saber:

a) Davi precisava saber o que se passava no coração de Saul – até então Saul não havia revelado sua indignação nem sua inveja. Sendo homem que se conduzia prudentemente, Davi precisava deste conhecimento e ninguém conhece o coração do homem senão Deus.

b) Davi precisava ser retirado, para sua proteção, da presença constante diante de Saul, a fim de que pudesse continuar suas atividades sem correr o risco de uma desconfiança insana, pois teria de vigiar durante todo o tempo, se continuasse a servir a Saul e, como era obediente, não poderia simplesmente sair da corte sem que o rei o mandasse. O episódio fez com que o próprio Saul o mandasse para fora de seu convívio.

c) Davi deveria aprender a lição de que sua vida estava nas mãos do Senhor e que ninguém poderia atentar, com êxito, contra sua vida. Esta experiência era necessária para que a fé e esperança de Davi não desfalecessem no futuro.

– Vendo Saul que não conseguira matar Davi, apesar de ser grande guerreiro e de estar à sua mercê, compreendeu que Deus era com Davi e que não haveria como ele, um rejeitado do Senhor, lutar contra Davi. Assim, ―transferiu‖ Davi de posto, colocando-o como ―chefe de mil‖, função que o fez ficar fora do convívio de Saul em sua casa (I Sm.18:13).

– Mais uma vez vemos como Davi tinha o Espírito Santo. Com sua popularidade e tendo sido alvo de uma tentativa de homicídio, poderia ter intentado uma rebelião contra Saul.

Entretanto, como era um homem de Deus, desconsiderou por completo o ato criminoso do rei e, obedientemente, aceitou assumir a ―chefia de mil‖ como lhe foi determinado. Temos agido desta maneira, em particular, aqueles que, na obra do Senhor, são ―transferidos‖, inclusive por quem, em vão, tentou matá-los?

A obediência de Davi à ordem de Saul é mostrada no texto bíblico como mais uma demonstração de prudência de Davi e o fator que levou o Senhor a ser com ele em todos os seus caminhos (I Sm.18:14).

Quantos servos do Senhor têm perdido as bênçãos porque ―não conseguem engolir os sapos‖ na obra de Deus. Sejamos prudentes como Davi e, certamente, o Senhor será conosco.

OBS: Hoje, é muito mais fácil rebelar-se do que se submeter à ordem de transferência. Quantas igrejolas não têm aparecido por aí por causa desta atitude completamente fora da vontade de Deus! Quantas igrejas são ―afundadas‖, como diz querido irmão que conosco participa das reuniões de estudo das Lições Bíblicas com os professores da EBD.

Quantas mudanças de ministério, de denominação, de igreja local têm ocorrido por falta desta prudência que vemos na vida de Davi. No entanto, tudo isto só tem contribuído para o escândalo do Evangelho e nada mais.

Em vez de terem a companhia do Senhor, como teve Davi, o que estas pessoas conseguem é tão somente o ―ai de Jesus constante de Mt.18:7.

– O resultado de Davi ter se conduzido prudentemente, obedecendo a Saul e deixando tudo nas mãos do Senhor foi o fortalecimento de sua posição diante de Israel.

Ao obedecer a Saul, sendo chefe de mil, sem qualquer atitude de insubordinação, Davi fez com que o rei tivesse receio dele (I Sm.18:15). Ao sair do convívio da casa do rei e passar a sair e entrar diante do povo, manteve e aumentou a estima do povo com relação a ele (I Sm.18:16).

– Vendo Saul que não podia vencer Davi, tentou fazê-lo por meio dos inimigos do povo de Deus. Assim, em vez de matar Davi, quis criar circunstâncias pelas quais os filisteus pudessem matar Davi (I Sm.18:17).

Assim ainda opera o nosso adversário: não contente com um livramento advindo da parte de Deus, trata, incansavelmente, de armar outros estratagemas para tentar vencer os servos do Senhor. Como, então, ainda haja crentes que querem ter uma vida espiritual desatenta, achando que o diabo não quer mais mexer com ele?

– Assim, para aguçar a ganância de Davi, Saul rememorou-lhe a promessa que havia feito de fazê-lo casar com uma filha sua caso vencesse o gigante. Tornou, pois, a dizer que daria sua filha Merabe em casamento, se Davi lhe fosse filho valoroso e guerreasse as guerras do Senhor.

Com esta promessa, sabendo que Davi tinha interesse em casar-se (mais uma prova de que não era, em absoluto, homossexual masculino), criou uma situação para que Davi se mostrasse mais ousado na batalha, atrevido mesmo, a fim de que, com suas peripécias, pudesse se tornar genro do rei.

– Devemos ter muito cuidado com os “estímulos” trazidos pelo inimigo quando bem nos conduzimos na presença do Senhor. Hoje são muitos os que, vendo o nosso sucesso no ―bom combate‖, na luta contra o mal, querem nos incentivar a sermos ―ousados, ―atrevidos, em troca de vantagens na obra do Senhor, de projeção na igreja, no ministério e na mídia.

Saul tentou levar Davi à imprudência mediante o uso de legítimos desejos do jovem chefe de mil, ou seja, de sua coragem, de seu desejo de constituir família, de seu desejo de defender Israel dos inimigos para a glorificação do nome do Senhor.

– No entanto, Davi não se deixou levar pelos estímulos e incentivos de Saul. Continuou a se conduzir prudentemente, não pondo em seu coração o desejo de se tornar genro do rei, ou seja, o desejo de poder, de posição, de riqueza, nem tampouco o desejo de satisfação dos instintos sexuais.

Como é belo quando o crente deixa de lado todas estas ofertas e continua a ter como objetivo servir e agradar a Deus!

– Muitos têm começado bem a jornada rumo ao céu, mas, no meio do caminho, sucumbem diante destas ofertas do adversário. Quanto não é o amor do dinheiro (I Tm.6:10), é a imoralidade sexual (I Ts.4:2-5); quando não é nem um nem outra, é o desejo de fama e de projeção, a vaidade (Rm.11:20,21).

Não podemos nos prender por estas coisas, que podem sufocar a nossa fé (13:22), para que não venhamos a ser derrotados. O inimigo tem seus ardis e não podemos ignorá-los (II Co.2:11).

– Davi continuou a se conduzir como antes nas suas guerras, nas suas operações militares. Não se achou com ―direito‖ de ser ―genro do rei. Manteve a sua posição de modéstia, reconhecendo suas origens, lembrando que, por sua vida e pela sua família, não tinha como se tornar genro do rei ( I Sm.18:18).

Davi sabia que estava a vencer as guerras do Senhor pela companhia do Senhor, não por seus méritos. Sabia que tudo devia ao Senhor e que a Ele se deveria dar toda a glória. Como é bom quando o crente reconhece que sem Jesus nada pode fazer (Jo.15:5).

Quando, porém, o crente começa a achar que tem ―direitos‖ diante de Deus, que pode ―cobrá-l’O‖, ―exigir‖ algo ao Senhor, está a um passo de ser alvo dos ardis satânicos dos cuidados deste mundo e da sedução das riquezas. Tomemos cuidado, irmãos!

– Saul, verificando que Davi não lhe dera ouvidos, ou seja, não deixara de agir prudentemente, como mais um estímulo a que abandonasse sua conduta agradável a Deus, ao tempo determinado para que desse Merabe a Davi, deu-a a outrem, a Adriel, meolatita (I Sm.18:19).

– Davi tinha mais um motivo para deixar de servir a Saul. Havia sido obediente ao rei quando este o mandou para a chefia de mil, mesmo depois de ter sido vítima de uma tentativa de homicídio.

Sem que pedisse coisa alguma, Saul lhe prometera sua filha Merabe em casamento, renovando, aliás, a promessa já não cumprida de antes da vitória sobre Golias e, agora, o rei quebrava a sua palavra, dando Merabe a Adriel.

Não era hora de se rebelar contra o rei? Não era hora de enfrentá-lo, já que era o ungido de Deus e o povo estava ao seu lado?

Não, não era! Davi não se abalou e se manteve tanto quanto antes. Será que faríamos o que Davi fez? Será que nos manteríamos em nossa posição apesar da quebra de promessa, da falta de hombridade de quem está a nos dirigir?

– Mical, outra filha de Saul, estava afeiçoada a Davi, amava-o e o rei Saul percebeu esta circunstância. Mas Davi, sabedor de sua condição, não ousava pedir-lha em casamento.

O rei, sabendo que a afeição era mútua, mais uma vez mal-intencionado, mandou que chegasse aos ouvidos de Davi que via com bons olhos seu casamento com Mical e que, como dote, aceitaria que lhe trouxesse cem prepúcios de filisteus, como demonstração de vingança junto aos inimigos do rei.

Com esta astúcia, Saul queria criar uma ocasião para que Davi iniciasse uma peleja contra os filisteus, por um motivo particular (e, portanto, sem condições de arregimentar todo o exército israelita) e fosse morto pelos filisteus em batalha.

Animado pela oferta real, pela possibilidade de se tornar genro do rei e casar-se com a mulher de quem estava afeiçoado, Davi estaria muito mais vulnerável e poderia ser morto (I Sm.18:21-26).

– Davi, como já vimos, não tinha nenhuma ganância, não estava obcecado pela ideia de se tornar genro do rei. No entanto, após muita insistência pelas ―fofocas da corte‖, e como estava gostando de Mical, diante da possibilidade de ser genro do rei sem que tivesse de dar um dote patrimonial, visto que era pessoa pobre e que não vinha de família nobre, o jovem não resistiu e resolveu correr o risco a fim de se tornar genro do rei.

– Este episódio traz-nos algumas lições importantes. A primeira é que Saul não teve coragem de fazer a proposta diretamente a Davi bem como que este assunto fosse tratado em segredo (I Sm.18:22).

Como é típico dos astuciosos, quis criar uma situação em que ficava encoberto, onde se têm apenas insinuações e mexericos. Sempre que estivermos diante de uma situação quetal, tenhamos redobrado cuidado, pois as coisas de Deus sempre são claras, objetivas e transparentes.

– Em segundo lugar, observemos que Davi, embora estivesse gostando de Mical e isto lhe fosse correspondido, sabia muito bem que não era da mesma classe social da princesa, bem como que não tinha condições de com ela se casar pela diferença existente entre ambos.

Davi não era um ―apaixonado‖, nem punha sua necessidade e vontade de casar acima da racionalidade e da vontade do Senhor.

Quantos, nos dias de hoje, pela pressa em ter uma vida sexual ativa, pela paixão momentânea e passageira, marcam casamentos sem o mínimo de condições de construírem uma vida a dois minimamente digna? Davi sabia que um jugo desigual não era uma atitude de quem é ungido de Deus (I Sm.18:23).

Somente depois que pôde perceber, pela proposta de Saul, que teria condições de desposar Mical, é que Davi decidiu ir à luta para obter os prepúcios de filisteus necessários para o pedido em casamento.

– Em que pese esta prudência de Davi, que é louvável, não podemos, porém, esquecer que a aceitação da oferta de Saul não deixou de representar um problema para Davi, não como Saul intentava, de risco de morte para o jovem, mas, sim, para a própria vida privada do futuro rei.

Como haveremos ainda de estudar neste trimestre, a vida familiar de Davi foi um desastre, é um contraexemplo para os leitores das Escrituras. Aqui, em que pese o cuidado de Davi para com a diferença de classe social e de condição financeira, não atentou ele para dois outros fatores importantíssimos:

o interesse de se tornar genro do rei como principal estímulo para a união e a

– desconsideração da proibição divina para casamento entre pessoas de tribos diferentes (Nm.36:6).

 Estes dois fatores foram fundamentais no fracasso que foi a vida conjugal entre Davi e Mical.

– Davi não feriu cem filisteus, para lhes arrancar os prepúcios, mas, sim, duzentos, ou seja, trouxe a Saul o dobro de prepúcios exigidos como dote.

Esta circunstância deixou Saul sem ação, tendo ele de dar Mical a Davi, tornando-o genro do rei. Saul, então, temeu muito mais a Davi, tendo mais uma demonstração de que Deus era com ele, tornando-se, assim, inimigo de Davi, pois teve certeza de que Davi era o homem que Deus havia escolhido para sucedê-lo no trono (I Sm.18:28-30).

– Apesar deste gesto atrevido, movido pelo estímulo de Saul, Davi permaneceu se conduzindo prudentemente diante de Saul, não modificando a sua conduta, mesmo sendo agora genro do rei (I Sm.18:30). A perseverança e constância de Davi, apesar das mudanças em sua vida, são um exemplo a ser seguido. Temos, a exemplo de nosso Senhor, ser os mesmos ao longo de nossa jornada.

– Não bastasse o fracasso do intento de os filisteus serem o instrumento para a morte de Davi, em nova guerra contra os filisteus, Davi novamente se destacou, fazendo com que os príncipes dos filisteus não conseguissem adentrar nos termos de Israel, tendo Davi se sobressaído entre os comandantes israelitas, o que fez aumentar ainda mais sua popularidade (I Sm.18:30).

Isto foi demais para Saul, que se viu forçado, na sua mente maligna dominada pela inveja, a elaborar novo plano para dar cabo da vida de Davi. Buscou, então, trazer para o seu intento aqueles que seriam, teoricamente, os maiores prejudicados por este sucesso de Davi, ou seja, os comandantes militares, em especial o príncipe herdeiro, Jônatas.

– Percebemos, pois, como Deus é maravilhoso. Muito tempo antes de Saul tentar trazer Jônatas como seu comparsa na tentativa de matar Davi, Deus já havia criado entre Davi e Jônatas um amor divino, desinteressado e firmado no temor ao Senhor e no desejo de glorificá-l’O.

Quando Saul manda que Jônatas e seus servos mais próximos matassem Davi, em vez de encontrar em Jônatas o mais forte aliado, como pensava, viu em seu primogênito o principal obstáculo para a realização do seu desejo (I Sm.19:1).

– Dada a ordem por Saul, certamente em segredo, para os seus principais assessores, para que matassem Davi, Jônatas não teve como deixar de contá-lo a Davi. Dirá alguém que Jônatas estava a trair o seu próprio pai, que este não seria um comportamento de um servo de Deus, mas é aqui que vemos os limites da obediência a Deus e da obediência aos homens.

O servo de Deus jamais poderia cumprir uma ordem para matar alguém, pois isto contrariava a lei (Ex.20:13; Dt.5:17).

Além do mais, Jônatas já tinha compreendido que Deus era com Davi e, portanto, a unção estava tanto sobre Saul quanto sobre Davi, sendo certo que o servo do Senhor recusa afronta ao seu próximo, bem como despreza aquele que o Senhor reprova e honra aqueles que temem ao Senhor (Sl.15:3,4). Aqui não se tinha traição a Saul, mas, pelo contrário, obediência a Deus.

– Jônatas anunciou a Davi a ordem de Saul para matá-lo e sugeriu a ele que se escondesse, enquanto ele, Jônatas, intercederia a seu favor diante do rei.

Assim foi feito, tendo Jônatas defendido Davi diante de Saul, argumentando com o rei que Davi só lhe havia feito benefícios até então, não só ao rei, mas a todo o povo, não havendo causa alguma para que fosse morto. Saul, compreendendo que Jônatas não se sensibilizara com a ―ameaça do trono‖, voltou atrás e jurou que Davi não mais seria morto.

Davi, então, retornou, ―tudo ficando como dantes no quartel de Abrantes (I Sm.19:4-7).

– Houve nova guerra contra os filisteus e Davi, uma vez mais, se destacou na peleja. Uma nova vitória retumbante de Davi fez com que a inveja de Saul novamente voltasse à tona, como havia ocorrido antes da ordem que o rei dera para que matassem Davi (I Sm.19:8).

– Uma vez mais, Saul, possuído pelo espírito maligno, com uma lança na mão, tentou encravar Davi contra a parede, Davi que, como da outra vez, estava com a harpa na mão a fim de afugentar o espírito maligno de seu sogro.

Saul, desta feita, tentou encravar Davi apenas uma vez contra a parede e Davi, de imediato, após desviar-se de Saul, fugiu e escapou (I Sm.19:9,10).

– Saul, porém, não se deixou abater. Mandou mensageiros para a casa de Davi a fim de que fosse ele guardado e morto pela manhã.

Mical, porém, avisou Davi, pois o amava, tendo, então Davi descido pela janela de sua casa e fugido com a roupa do corpo, enquanto que a princesa tomou uma estátua e a deitou na sua cama, cobrindo-a com uma coberta e pondo peles de cabra à cabeceira. Quando os mensageiros de Saul chegaram, Mical mentiu, dizendo que Davi estava doente (I Sm.19:12-14).

– Ao saber da notícia, Saul, demonstrando toda a sua malignidade, mandou que trouxessem Davi na cama mesmo, para que ele o matasse, quando, então, foi descoberto que Davi já havia fugido e que apenas uma estátua estava em sua cama.

Saul demonstrou toda sua contrariedade com Mical que, uma vez mais, mentiu, dizendo ter sido ameaçada de morte por Davi.

– Terminava o “estágio” de Davi na corte de Saul. Nos planos de Deus, não poderia Davi reinar apenas conhecendo o modo de governar de Saul. Na corte, Davi havia se tornado um habilidoso guerreiro e conhecido o ―ambiente palaciano, o que era importante para que reinasse sobre Israel. Mas para ser um rei aprovado por Deus, ao contrário de Saul, tinha de passar por outras escolas.

Deus, assim, retira-lhe tudo que havia conquistado até então. Este despojar de tudo quanto Davi possuía não deixa de ser uma figura do despojar de Cristo da glória de Deus para que pudesse ser o Salvador do mundo (Fp.2:5-7). Estamos, também, dispostos a tudo perder para ganhar (cf. Mt.10:39; 16:25; Mc.8:35; Lc.9:24; 17:33; Jo.12:25)?

– Davi, assim, fugia da presença de Saul, tendo, então terminado mais esta fase de sua vida. Após estar tão perto do trono, na corte do Rei, já na condição de genro do rei e com o reconhecimento de sua chamada pelo herdeiro Jônatas, de uma hora para outra, depois de só ter feito o bem, via-se sem família, sem casa, sem armas, sem soldados, só com a roupa do corpo.

Era o início da ―espera do tempo de Deus, fase da vida de Davi que estudaremos na próxima lição.

Pr. Dr. CARAMURU AFONSO

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